Por que não há nada a comemorar com o “crescimento” do PIB?
Eric Gil*, Pragmatismo Político
Logo que saiu o resultado do primeiro trimestre das contas nacionais do país, publicado pelo IBGE, onde se registrou o crescimento de 1% do PIB em relação ao último trimestre de 2016, Michel Temer já conclamou a todos para comemorar o final da crise econômica e que apoiassem as suas reformas, pois isto faria com que a economia crescesse ainda mais.
Bem, mas não cairemos no falso discurso do golpista Temer. O PIB cresceu? Cresceu. Mas o quê que cresceu? Vamos aos dados.
Segundo o IBGE, “o Produto Interno Bruto (PIB) apresentou crescimento de 1,0% na comparação do primeiro trimestre de 2017 contra o quarto trimestre de 2016, levando-se em consideração a série com ajuste sazonal. Na comparação com igual período de 2016, houve recuo do PIB de 0,4% no primeiro trimestre do ano. No acumulado dos quatro trimestres terminados no primeiro trimestre de 2017, o PIB registrou queda de 2,3% em relação aos quatro trimestres imediatamente anteriores”. Primeiro é importante perceber que o PIB pode ser comparado a vários outros momentos (como mostram os gráficos do IBGE abaixo). Ou acumulado de um ano (quando houve a queda de 2,3%), ou ao mesmo trimestre do ano anterior (queda de 0,4%) ou comparar um trimestre com o anterior (comparar janeiro, fevereiro e março com outubro, novembro e dezembro do ano passado). O PIB cresceu apenas em relação ao quarto trimestre de 2016.
Mas o que cresceu nele? O PIB, que é definido pelo próprio IBGE como “Bens e serviços produzidos no país descontadas as despesas com os insumos utilizados no processo de produção durante o ano. É a medida do total do valor adicionado bruto gerado por todas as atividades econômicas”, ou seja, tudo que é produzido em bens e serviços num país em um dado período de tempo, pode ser vista por várias formas, sendo uma delas por setores da economia: de Agropecuária, da Indústria e dos Serviços. Neste trimestre a Agropecuária cresceu 13,4%, a Indústria 0,9% e os Serviços 0%. Então a única coisa que cresceu de fato foi a Agropecuária.
O crescimento neste setor se deveu há fatores como uma grande safra – ocasionada por fatores climáticos – e preços internacionais elevados das commodities (soja, feijão, café, etc.).
Sintetizando, o único setor que cresceu de fato foi por motivos alheios às políticas do governo, e por motivos externos a vontade do próprio país (clima e preços internacionais), além de que este setor emprega menos do que um quarto dos trabalhadores brasileiros, o que diminui o seu efeito na economia.
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Olhando o PIB agora por outra ótica, a da despesa, vimos que a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) – que é o que se investe em capacidade produtiva das empresas – caiu 1,6% neste trimestre. Já o consumo das famílias caiu 0,1%, e o do governo caiu 0,6%. Números nada animadores. As empresas estão investindo pouco e as famílias continuam a gastar menos (afinal o desemprego e a renda estão horríveis).
Ainda olhando para a despesa, algo que ajudou bastante o número “positivo” do PIB foi o crescimento das exportações (4,8%), parte explicada pela desvalorização do Real, o que incentiva as exportações.
Pegando emprestado uma lembrança do cientista político da UnB, Luis Felipe Miguel, “Voltamos aos tempos do general Garrastazu Médici: A economia vai bem mas o povo vai mal”, mas com o detalhe de que na economia também vamos mal.
Como vimos, não é uma retomada consistente, e sim uma boa fase da Agropecuária que teve uma boa safra (e que é o setor que foi menos atingido pela crise), mas que tem efeitos limitados na economia. Tanto que a taxa de desemprego continua crescendo, sendo a do primeiro trimestre deste ano, segundo o IBGE, 1% maior do que a do último trimestre do ano passado. Só no um ano de governo Temer o número de desempregados aumentou em 2,6 milhões de brasileiros.
Vários analistas estão projetando que o PIB voltará a encolher nos próximos trimestres, pois só no marketing do temeroso e do banqueiro, Henrique Meirelles, é que a crise econômica acabou. Além do mais, as reformas propostas e aprovadas pelo governo só pioram a crise, pois aumenta desemprego e diminui o salário do trabalhador.
E é importante lembrar que, o seu governo é tão odiado que, segundo pesquisa desta semana da Paraná Pesquisas, mesmo se a economia melhorasse, somente 23,5% da população lhe daria um “voto de confiança”. A imensa maioria quer a saída de Temer do governo e eleições diretas.
*Eric Gil é economista formado pela Universidade Federal da Paraíba, mestre e doutorando em Ciência Política pela Universidade Federal do Paraná; escreve quinzenalmente para Pragmatismo Político