Redação Pragmatismo
Política 24/Jul/2017 às 11:00 COMENTÁRIOS
Política

Os partidos políticos estão em crise?

Publicado em 24 Jul, 2017 às 11h00
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Rodrigo Mayer*, Pragmatismo Político

Muito se fala da crise dos partidos políticos. Este tema não é novidade e vem desde a criação dos partidos modernos – que foi acompanhada por um forte sentimento antipartidário – no século XIX. O assunto foi amplamente desenvolvido por estudiosos no começo do século passado em que sua efetividade foi questionada e novas formas de representação foram propostas, tais como, representação profissional e/ou a sua substituição por organizações provisórias com demandas específicas que desaparecem após o cumprimento de seus objetivos.

O debate permaneceu na agenda durante todo o século passado e se fortaleceu nas últimas décadas com o crescimento da percepção de distanciamento dos partidos políticos em relação à sociedade e o aumento da dependência deles em relação ao financiamento estatal, que no Brasil a soma já ultrapassa 800 milhões de reais anuais.

Toda esta situação trouxe à tona um importante questionamento: Atualmente os partidos políticos se encontram em crise? Não existe uma resposta única para isso, com duas respostas concorrentes. A primeira argumenta que não existe crise, mas uma adaptação aos novos tempos. E a segunda, argumenta que existe crise, pois os partidos não se restringem somente a questões procedimentais.

O argumento de que os partidos não se encontram em crise se concentra basicamente nas funções procedimentais, como a organização de governos, de eleições, da disputa eleitoral. Devido a crescente necessidade de recursos financeiros gerada pelo aumento dos custos das campanhas eleitorais, principalmente por causa de novas tecnologias e o aumento do personalismo das campanhas, os partidos políticos necessitam se adaptar a uma nova realidade, mais instável, tanto em relação a recursos financeiros, quanto em relação ao comportamento do eleitor.

Também são postos argumentos que estes não dependem mais de seus membros para sobreviver, pois a grande parte dos recursos (sobretudo, financeiros) essenciais à sua sobrevivência vem do organismo estatal. A própria existência de membros é questionada, pois estes não são mais indispensáveis para a manutenção da estrutura organizacional partidária, vide que sua contribuição se dá de forma esporádica e ocasional, isso é, de modo instável.

Somado a isso os adeptos desta visão argumentam que as estruturas organizacionais partidárias atravessaram importantes transformações internas, com aumento da profissionalização interna e da importância de profissionais contratados (principalmente, especialistas de campanha). Além disso, o organismo estatal também fornece profissionais especializados para os partidos, de modo que estes possam exercer as suas atividades, o que diminui ainda mais o espaço para o membro individual.

Portanto, o argumento que os partidos políticos não estão em crise se concentra em questões meramente processuais, isso é, em seu funcionamento, organização de governos, disputas eleitorais e não na qualidade destas ações.

De outro lado, argumenta-se que os partidos políticos se encontram em crise, pois estes não se restringem somente aos aspectos procedimentais e exercem um papel crucial na mediação entre os governos e a sociedade, ou seja, suas funções representativas são fundamentais para sua atuação.

A crise, nesse caso estaria concentrada na crise de representação das legendas com a sociedade, as quais são vistas como cada vez mais distantes da maioria da população e essa passa a se identificar cada vez menos com os partidos.

Como efeito, a própria questão do papel da ideologia é questionada, pois, devido aos avanços dos meios de comunicação de massas, as campanhas e as mensagens se tornam cada vez mais semelhantes o que gera problemas na diferenciação das agremiações para com os eleitores. E como fica o papel da ideologia? A ideologia neste caso perde espaço na questão representativa e se torna um mero acessório nas campanhas eleitorais.

Esta situação também abre espaço para a construção de novas organizações, algumas com mensagens mais programáticas e outras com foco nas questões processuais, isso é, com foco somente na competição eleitoral e não na questão representativa devido a não construção de sólidas ideologias, evidenciando o aspecto de mercado eleitoral.

Podemos então falar que os partidos estão em crise? De certo modo, eles continuam funcionando, possuem receitas cada vez maiores – devido ao subsídio estatal e o financiamento por meio de grupos de interesses – e disputam eleições com regularidade, o que demonstra que seu fim não está próximo. De outro lado, a percepção é que os partidos políticos se encontram cada vez mais distantes da sociedade e de suas funções representativas.

A resposta para a questão se os partidos políticos estão em crise, portanto, depende do ponto de vista. De acordo com uma visão mais instrumental, eles não se encontram em crise, pois desempenham suas funções junto aos governos.

Porém, para muitos os partidos políticos vão além da disputa eleitoral e atuam junto à população, representando seus interesses e levando as demandas sociais aos governos. Neste ponto, podemos argumentar que os partidos políticos se encontram em crise.

*Rodrigo Mayer é graduado em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Paraná, mestre em Ciência Política pela Universidade Federal do Paraná, doutor em Ciência Política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, pós-doutorando em Sociologia Política na UFSC e colaborou para Pragmatismo Político.

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