Homens ocidentais têm redução drástica de espermatozoides, revela estudo
Número de espermatozoides de homens ocidentais cai pela metade, diz estudo. Análise avaliou estudos conduzidos com 43 mil homens durante quatro décadas. Especialistas alertam para possível influência de dieta, fumo e exposição a pesticidas. Sul-americanos não registraram queda
O número de espermatozoides de homens na Europa, América do Norte, Austrália e Nova Zelândia caiu pela metade nos últimos 40 anos, segundo artigo divulgado por pesquisadores da publicação especializada Human Reproduction Update, da Universidade britânica de Oxford, nesta terça-feira (25/07).
Entre 1973 e 2011, o número de espermatozoides por mililitro de esperma caiu 52,4% em homens de países ocidentais, diz o estudo. O total de células reprodutivas masculinas por ejaculação registrou um declínio ainda maior no mesmo período: 59,3%.
“A contagem de espermatozoides tem importância considerável no âmbito da saúde pública, por diversas razões“, diz o texto da Human Reproduction Update. “Em primeiro lugar, a contagem tem estreita ligação com a fertilidade masculina e é uma componente crucial para a análise de sêmen – o primeiro passo na identificação da infertilidade masculina, cuja carga econômica e social é alta e está aumentando“, explica o artigo.
O texto ainda lista outros três fatores para embasar a pesquisa:
– a possibilidade de previsão de desenvolvimento de doenças e também de mortalidade por todo tipo de causa;
– o número reduzido de espermatozoides é associado com câncer testicular e outras doenças;
– a contagem de células reprodutivas masculinas e outros parâmetros de estudo do sêmen já chegaram a ser associados com várias influências do ambiente na vida dos seres humanos, como uso de pesticidas, calor e estilo de vida (incluindo dieta, estresse e fumo, entre outros).
“Por isso, a contagem de espermatozoides pode chegar a refletir sensivelmente os impactos do ambiente na saúde de homens durante toda a vida“, descreve o artigo.
Alerta
Os cientistas concluem que suas descobertas são um forte indício para “o declínio da saúde reprodutiva masculina, o que tem implicações sérias que vão além da infertilidade“. Por isso, “há necessidade urgente de pesquisar sobre as causas e as consequências desse declínio“, afirma o artigo.
Hagai Levine, da Hebrew University em Jerusalém, coliderou o estudo, conduzido ao lado de pesquisadores do Brasil, EUA, Dinamarca, Israel e Espanha. De acordo com ela, “diante do significado dos espermatozoides para a fertilidade masculina e a saúde humana, a pesquisa é um alerta urgente para estudiosos e autoridades de saúde do mundo todo“.
A pesquisa analisou 244 contagens de espermatozoides, originárias de 185 estudos que tinham sido feitos com quase 43 mil homens entre 1973 e 2011. A metodologia excluiu vários estudos com fatores que poderiam causar confusão, como a análise de homens inférteis ou que apresentavam doenças crônicas.
América do Sul não registra declínio
Além de eliminar fatores de confusão na pesquisa, Levine e seus colegas também dividiram os homens analisados em dois grupos geográficos: o que agrupa países que os pesquisadores consideram ter um estilo de vida ocidental (Europa, América do Norte, Austrália e Nova Zelândia) e estudos de “todos os outros países” (da América do Sul, Ásia e África).
Porém, apenas 69 contagens eram dessa segunda região, o equivalente a 28% das pesquisas analisadas. As contagens oriundas dos considerados países ocidentais somaram 175 (72%).
Nos “outros países“, os estudiosos não verificaram uma tendência estatística significativa de queda na concentração de células reprodutivas masculinas.
Controvérsia
No passado, várias pesquisas contradiziam umas às outras – algumas mostravam declínio na concentração de espermatozoides, outras não. A metodologia elimina o problema de comparar amostras medidas com tecnologias incomparáveis – testes mais antigos tendiam a superestimar a contagem.
Martin Blomberg Jensen, especialista em fertilidade masculina no hospital dinamarquês Righospitalet, acredita que o novo estudo tem limitações, já que comparou amostras de indivíduos diferentes em diferentes países e laboratórios. Segundo ele, a melhor maneira de confirmar mudanças na contagem de células reprodutivas masculinas seria uma observação de longo prazo num grupo de homens saudáveis.
Mas alguns especialistas convidados a comentar o estudo afirmam que se trata de uma análise abrangente e bem conduzida. Daniel Brison, especialista em embriologia e biologia de células-tronco na Universidade de Manchester disse que as conclusões “têm consequências importantes não só para a fertilidade, mas também para a saúde masculina e a saúde pública como um todo“.
“Uma questão que ainda não tem resposta é se o impacto do que quer que esteja causando a queda na concentração de espermatozoides poderá ser vista em gerações futuras de crianças através de mudanças genéticas ou outros fatores que influenciam o esperma“, afirmou Brison.
Stefan Schlatt, da clínica da Universidade de Münster, também relativizou a pesquisa, dizendo que a tendência encontrada não é tão desesperadora quanto parece. “Os números concretos ainda estão muito acima dos valores considerados perigosos pela Organização Mundial da Saúde“, explicou.
Schlatt ainda afirma que, apesar de o número de espermatozoides ser importante para avaliar a fertilidade de um homem, a mobilidade e a eventual malformação das células também desempenha um papel importante nessa análise – e esses são fatores que não foram considerados no estudo publicado pela Universidade de Oxford.
Segundo Schlatt, pode haver vários motivos para a queda da concentração dos espermatozoides: desde o consumo de analgésicos até o celular no bolso da calça. Outro fator importante para o médico é que os homens estão começando a formar famílias cada vez mais tarde – e a qualidade do sêmen cai com o avanço da idade.
Deutsche Welle