Chefe da Rota diz que PM deve tratar pobres e ricos de formas diferentes
PM não pode agir igual em periferia e bairro nobre, diz novo chefe da Rota. Tenente-coronel Ricardo Augusto foi inconsequente ao tentar explicar como devem ser as diferenças de abordagens policiais para ricos e pobres e recebeu enxurrada de críticas
Uma declaração do novo comandante da Rota (Tropa de Elite da Polícia Militar de São Paulo) sobre as diferenças de abordagens policiais em periferias e bairros nobres foi considerada infeliz e preconceituosa.
O tenente-coronel Ricardo Augusto Nascimento de Mello Araújo, de 46 anos, defende que um PM não se comporte em um bairro rico da mesma maneira que o faz em uma comunidade pobre, já que isto ‘poderia assustar’ o indivíduo rico.
“É uma outra realidade. São pessoas diferentes que transitam por lá. A forma dele abordar tem que ser diferente. Se o policial for abordar uma pessoa na periferia da mesma forma que ele for abordar uma pessoa aqui nos Jardins [região nobre de São Paulo], ele vai ter dificuldade. Ele não vai ser respeitado”, afirmou em entrevista ao portal UOL.
“Da mesma forma, se eu coloco um policial da periferia para lidar, falar com a mesma forma, com a mesma linguagem que uma pessoa da periferia fala aqui no Jardins, ele pode estar sendo grosseiro com uma pessoa do Jardins que está ali, andando”, argumentou.
Críticas
Para internautas, a declaração do comandante da Rota reforça apenas o estereótipo de que a polícia só serve aos mais abastados, enquanto é algoz dos mais pobres.
“A ‘filosofia’ por trás disso nada tem a ver com segurança pública, e sim, com viés psicossocial. Ela parte do pressuposto de que todo mundo na periferia é suspeito e que nos Jardins é exatamente o contrário. Ou seja, um típico ‘raciocínio’ de uma Polícia a serviço de uma Classe, e não da população“, comentou um internauta.
“Em resumo, o que ele disse é: abordou ladrão de galinha na periferia, tapa na orelha. Abordou político ladrão nos jardins, é ‘vossa excelência!‘”, criticou outro.
Por fim, um outro internauta sugeriu uma reflexão ao tenente-coronel:
“Não seria o contrário? Se o policial tratasse o morador da favela com o mesmo respeito que trata da região nobre não seria respeitado? Será que a antipatia que o morador da favela tem pela polícia não vem exatamente da forma como é tratado, causando inclusive a não colaboração dos moradores que, ao meu ver, é extremamente fundamental para o trabalho policial? Ele não quer que a polícia seja respeitada na favela, ele quer que a policia seja temida e quem tem que temer a polícia são os bandidos, não moradores de bem; moradores de bem têm que respeitar; gostar, ter gratidão pela polícia. Se o raciocínio dele está certo, então por que até hoje não deu certo?”