Redação Pragmatismo
Direita 06/Out/2017 às 14:17 COMENTÁRIOS
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Em nome da família tradicional, MBL esquece a política para falar de costumes

Publicado em 06 Out, 2017 às 14h17

Para ganhar projeção entre o eleitorado conservador, MBL esquece a política para falar de costumes. Em nome do respeito à família tradicional brasileira e à fé cristã, líderes do grupo sonham dar voos mais altos com aliança que inclui PMDB, DEM, ruralistas e evangélicos

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Carta Capital

O Movimento Brasil Livre (MBL), que ganhou projeção nacional ao defender o impeachment de Dilma Rousseff, aposta hoje em uma guerra cultural calcada no medo para continuar crescendo. O movimento, que antes centrava todo seu esforço na defesa do liberalismo econômico e de uma suposta pauta anticorrupção, hoje se sente à vontade para discutir arte e cultura, tudo em nome do respeito à família tradicional brasileira e à fé cristã.

Fica claro que os líderes do MBL sonham dar voos mais altos. Conforme revelou reportagem publicada pelo site da revista Piauí nesta semana, o plano do MBL para 2018 é levar o atual prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), para a Presidência da República. Para isso, o grupo quer construir uma aliança com o mercado financeiro que inclua o PMDB, o DEM, os ruralistas e os evangélicos.

Confira, abaixo, seis momentos em que o MBL adotou a pauta da moral e dos costumes para ganhar projeção entre o eleitorado conservador:

Performance no MAM-SP
28 de setembro de 2017

A página do MBL no Facebook compartilhou um texto do site Jornalivre cujo título dizia que a performance realizada pelo coreógrafo carioca Wagner Schwartz no Museu de Arte Moderna (MAM) de São Paulo promovia “erotização infantil”. O texto trazia um vídeo no qual uma criança, com a supervisão da mãe, tocava as mãos e os pés de Schwartz, que estava deitado e nu.

O post do MBL, que classificou o episódio como “absurdo”, rapidamente viralizou nas redes sociais. Diante dos ataques, o MAM divulgou uma nota na qual explicou que a performance – uma leitura interpretativa da obra “Bicho”, de Lygia Clark – “não tem conteúdo erótico”.

A ofensiva do MBL continua surtindo efeitos. No sábado 30, um protesto em frente ao MAM terminou com funcionários agredidos. Em sessão na Câmara na terça-feira 3, o deputado federal e delegado da Polícia Civil Laerte Bessa (PR-DF) sugeriu tortura para Schwartz e aqueles que defendem o trabalho do coreógrafo. Já o deputado João Rodrigues (PSD-SC) – que em 2015 foi flagrado assistindo a vídeos de pornografia em seu celular durante uma votação – sugeriu “porrada”.

Fernanda Lima e a “destruição da família”
27 de setembro de 2017

A apresentadora de TV Fernanda Lima, que já comandou o programa Amor e Sexo na Rede Globo, tem sido alvo de ataques do MBL nas redes sociais. Segundo o movimento, Lima prega “a destruição da família em seu programa” e teria se revelado “hipócrita” ao supostamente anunciar que se mudaria com o marido e os filhos para os Estados Unidos.

Em Amor e Sexo, a apresentadora e seus convidados tratavam de temas ligados a feminismo e machismo e também à causa LGBT.

As críticas do MBL também incluem o fato de que Fernanda Lima já manifestou apoio ao deputado estadual e ex-candidato do PSOL à Prefeitura do Rio de Janeiro, Marcelo Freixo.

Em resposta aos críticos, a apresentadora escreveu o que seria o País ideal para criar seus filhos: “O País dos sonhos que eu defendo é aquele onde meus filhos podem ir de metrô para escola, que podem andar sem medo pelas ruas, que podem se expressar livremente e que possam ter acesso a informação profunda e de qualidade para não falarem abobrinhas por aí”.

“Cura gay”
19 de setembro de 2017

Kim Kataguiri, o líder mais conhecido do MBL, protagonizou um vídeo no qual nos presenteia com seu ponto de vista a respeito da decisão judicial que, em caráter liminar, autoriza psicólogos a oferecerem tratamento contra a homossexualidade.

O que de fato está acontecendo é que os psicólogos, agora, têm permissão para conversar com aqueles homossexuais que estão insatisfeitos com a sua sexualidade, com a sua orientação sexual”, diz Kataguiri no vídeo. “Mas não tem ‘cura gay’ nenhuma, porque ser gay não é doença (…) trata-se simplesmente de uma liberdade de um indivíduo que não está satisfeito com a sua sexualidade, seja gay ou heterossexual, e quer conversar com um psicólogo”, afirma.

Kataguiri está correto quando diz que homossexualidade não é doença – a Organização Mundial da Saúde (OMS) alterou essa classificação em 1990. Conversar sobre sexualidade com um psicólogo, no entanto, não é nem nunca foi proibido pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP). O que o órgão proíbe é a chamada “terapia de reorientação sexual”, objeto da liminar e popularmente conhecida como “cura gay”.

Exposição Queermuseu
10 de setembro de 2017

A guinada do MBL em direção a pautas ligadas à moral e aos costumes ficou evidente com o boicote sugerido pelo movimento à exposição Queermuseu – Cartografias da Diferença na Arte Brasileira, que aborda a diversidade sexual e conta com obras de artistas como Candido Portinari, Lygia Clark, Alfredo Volpi, Adriana Varejão e Bia Leite.

Com o argumento de que a mostra ofendia a fé cristã e fazia apologia à pedofilia e à zoofilia, o MBL atacou a mostra, que estava em cartaz no Santander Cultural de Porto Alegre. Curvando-se à pressão, o banco encerrou a exposição de forma precoce.

Silvio Santos e o machismo na TV
28 de julho de 2017

O MBL saiu em defesa do apresentador de TV Silvio Santos, fortemente criticado por seus comentários machistas e misóginos. Em junho, o dono do SBT causou polêmica ao constranger a apresentadora Maisa Silva. A garota, de apenas 15 anos de idade, chegou a chorar durante uma gravação e abandonou o palco depois que Silvio disse que ela deveria sair com outro apresentador da casa, Dudu Camargo, de 18 anos.

Em post no Facebook, o MBL defendeu o apresentador dizendo que ele “recebe em seus programas uma plateia só de mulheres e as trata sempre com respeito e carinho“. Não é verdade. Tanto não é verdade que, na semana passada, o Ministério Público do Trabalho processou o SBT por violação à intimidade no episódio envolvendo Maisa.

Descriminalização do aborto
30 de novembro de 2016

Em novembro de 2016, a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal decidiu que praticar aborto nos três primeiros meses de gestação não é crime. Na ocasião, Kim Kataguiri criticou a decisão dos ministros em um vídeo no qual exibia uma imagem de um feto de três meses. “Isso é simplesmente um amontoado de células para você?”, questiona.

Se você, olhando para essa imagem, enxerga só um amontoado de células, me desculpe, mas você é um psicopata”, dispara. O jovem diz, ainda, que a decisão do STF não possui “embasamento moral”. E continua: “Aborto é crime, sim. Você matar uma criança, você matar um bebê, é crime, sim. Porque o direito à vida é um dos direitos mais preciosos, se não o direito mais precioso, que a gente pode ter”, conclui.

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