Campanha de papel higiênico de cor preta revolta movimento negro
Slogan publicitário que promove papel higiênico de cor preta está sendo considerado racista. Campanha usou expressão histórica de luta contra o racismo.
Andréa Martinelli, HuffPost
Uma expressão histórica de luta contra o racismo foi usada em uma campanha de papel higiênico.
Com a atriz Marina Ruy Barbosa de garota propaganda e com as expressões “Seja Ousado. Seja diferente. Seja #PersonalVipBlack“, a Santher, fabricante de produtos descartáveis e de uso doméstico e detentora da marca Personal, apresentou ao mercado o lançamento e usou a hashtag #blackisbeautiful para isso.
Segundo a fabricante, este é o primeiro papel higiênico preto produzido no País e a ideia é usar a tonalidade como referência de sofisticação e “um novo olhar para a decoração com diferenciação” para quem usá-lo. Por isso a escolha de Marina Ruy Barbosa também:
“Ela [Marina Ruy Barbosa] representa a essência deste lançamento, um papel higiênico criado para mostrar que bom gosto e requinte podem estar presentes em todos os momentos do dia a dia das famílias“, explica em nota a líder de marketing da marca, Lucia Rezende, ao G1.
Mas assim que foi postada nas redes sociais, nesta segunda-feira (23), a divulgação do produto gerou repercussão — e muitas críticas.
Alguns não entenderam o propósito da campanha.
2017 não era pra estarmos andando de skate voador por ai? Mas a "Marina Ruy Barbosa" tá linda na Campanha desse papel higiênico preto. pic.twitter.com/qHFGM5uTEE
— Fabiola Barros Lima (@Bi_FabiolaLima) 23 de outubro de 2017
Marina Ruy Barbosa vestida com um rolo de papel higiênico preto já saturou os níveis de doidura do dia. Pula pra terça-feira.
— Letricia (@trashediamonds) 23 de outubro de 2017
Outros criticaram fortemente o slogam usado pela marca, considerado racista.
A gente vê racismo em tudo ou cês são convenientemente cegos? #blackisbeautiful #personalvipblack pic.twitter.com/SEaxkoxj57
— Lip (@moreiralipe_) 23 de outubro de 2017
A gente vê racismo em tudo ou cês são convenientemente cegos? #blackisbeautiful #personalvipblack pic.twitter.com/SEaxkoxj57
— Lip (@moreiralipe_) 23 de outubro de 2017
Criado na década de 1960 por artistas e intelectuais, o “Black Is Beautiful” surgiu para enaltecer características físicas da população negra nos EUA. O movimento chegou até o Brasil, em tradução literal “negro é lindo”.
Um dos posts mais compartilhados até esta terça-feira (24) sobre o tema, é do escritor Anderson França, em que ele explica porque ter um papel higiênico na cor preta não é racista mas o uso do slogan é.
“Pessoas morreram para que essa expressão fosse reverenciada até hoje. Pessoas continuam morrendo e essa expressão é mais importante e vital que nunca“, escreveu.
Para ele esta propaganda é “senão um dos mais graves ataques racistas praticados por uma empresa brasileira”:
“Numa atitude racista e irresponsável, consciente e deliberada, (a Santher) decidiu que essa expressão deve remeter a papel higiênico, cuja função qualquer pessoa conhece“.
Leia o post completo abaixo:
A repercussão negativa da campanha feita pela agência Neogama chegou até o jornal britânico The Guardian.
Mais tarde, ainda na segunda-feira (23), a marca fez uma edição em um vídeo que tinha sido divulgado com a campanha excluindo a hashtag #blackisbeautiful, segundo o professor da FAAP, Eric Messa:
Marina Ruy Barbosa também apagou a postagem em que anunciava sua participação na campanha. “Um lançamento que eu adorei fazer parte! O primeiro papel higiênico preto do país!“, havia escrito a artista em sua conta pessoal do Instagram, sem mencionar o slogan.
Em nota enviada ao HuffPost, a marca informa que a assinatura contendo “black is beautiful” foi retirada de toda a comunicação da campanha. Leia na íntegra:
“A mensagem criativa da campanha para o produto Personal Vip Black foi selecionada com o objetivo de destacar um produto que segue tendência de design já existente no exterior e trazida pela Santher para o Brasil. Nenhum outro significado, que não seja esse, foi pretendido.
Refutamos toda e qualquer insinuação ou acusação de preconceito neste caso e lamentamos outro entendimento que não seja o explicitado na peça.
Desta forma, Santher e Neogama vem a público informar que tal assinatura foi retirada de toda comunicação da campanha e apresentar suas desculpas por eventual associação da frase adotada ao movimento negro, tão respeitado e admirado por nós“.