No SBT, Michel Temer entrevistou Silvio Santos
Inversão de papeis e muita bajulação. No SBT, ao invés de entrevistar, Silvio Santos acabou entrevistado por Michel Temer. Presidente falou de tudo, menos de corrupção, marca do seu governo. Apresentador ainda usou argumento chulo para vender que a reforma da Previdência é 'boa' para o Brasil
Em busca de apoio para aprovar a polêmica reforma da Previdência, o presidente Michel Temer foi ao programa Silvio Santos, no SBT, na noite deste domingo (28/1).
Em uma conversa amigável que durou cerca de 30 minutos, o político não foi questionado e usou praticamente todo o espaço disponível em horário nobre, numa concessão pública, como palanque para propagandear seus anseios.
Antes de deixar a emissora, numa cena que pareceu combinada para transparecer alguma simpatia, Temer deu uma nota de R$ 50 ao apresentador.
Em diversos momentos, Silvio Santos ajudou Temer. O apresentador teve a coragem de afirmar que “se a reforma não for aprovada, o governo ficará sem dinheiro para pagar os aposentados”.
O argumento de Silvio, evidentemente, é falacioso. Entenda aqui.
Michel Temer alegou que a mudança não vai afetar as pessoas mais pobres, e “que sem alterar as regras o Brasil corre o risco de quebrar como a Grécia”. O encontro repercutiu nas redes sociais e acabou viralizando na internet.
A maior parte das mensagens foram negativas, por conta da falta de espaço para posições contrárias a reforma e a tentativa de convencer o internauta das propostas do governo.
A hastag #SilvioSantos ficou nos Trends Topics mundiais do Twitter, que são os assuntos mais comentados do microblog.
Corrupção?
Na Folha de S.Paulo, o jornalista Josias de Souza repercutiu a ida de Temer ao programa de Silvio e classificou a entrevista como vexatória.
“A presença de Temer num programa de auditório popularesco vale por uma confissão de impotência política. A certa altura, como que reconhecendo sua fragilidade no Parlamento, o presidente rogou à plateia que pressione os deputados“, afirmou o jornalista.
“Faltou dizer por que um governo que se jactava de ter uma maioria gigantesca na Câmara não consegue juntar os 308 votos de que precisa para aprovar a emenda constitucional da reforma da Previdência. Falou-se de tudo na conversa entre Temer e Silvio, menos da verdadeira causa da inanição legislativa. Como reconhecer diante das câmeras que o governo, do ponto de vista político, apodreceu?“, ponderou Josias.
“Houve uma grande ausência na conversa da noite de domingo entre Michel Temer e Silvio Santos. Faltou uma palavra mágica, aquela que dispensaria os telespectadores de se perguntarem sobre o que houve, afinal, com o lendário talento de Temer para articular maiorias no Congresso. Ele não se gabava de ter presidido a Câmara três vezes? Não era um PhD em negociação política? Não dava nó em pingo d’água? Eis a palavra que faltou: C-O-R-R-U-P-Ç-Ã-O“, finalizou.
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