Redação Pragmatismo
São Paulo 06/Fev/2018 às 21:08 COMENTÁRIOS
São Paulo

Quem vai responder pela morte do jovem Lucas Lacerda no carnaval de SP?

Publicado em 06 Fev, 2018 às 21h08

Estudante Lucas Lacerda foi eletrocutado ao encostar em poste enquanto brincava carnaval em São Paulo. No poste em que o jovem esbarrou haviam sido instaladas, de forma irregular, câmeras de segurança por empresas contratadas pela prefeitura. Amigo que estava com a vítima expôs gargalos que precisam de respostas

Lucas Lacerda eletrocutado poste carnaval
O jovem Lucas Lacerda morreu após ser eletrocutado na cidade de São Paulo

A morte do estudante Lucas Antônio Lacerda da Silva, 22, eletrocutado neste domingo (4) ao encostar em um poste no centro de São Paulo, expos falhas na organização do Carnaval de rua pela gestão do prefeito João Doria (PSDB).

O estudante foi enterrado na manhã desta terça-feira (6) na cidade de Cardoso, no interior de São Paulo, onde mora sua família. Ele vivia em Santo André, no ABC, desde 2015, onde estudava Engenharia Biomédica na Universidade Federal do ABC.

Entre os gargalos estão: demora na prestação de socorro médico, despreparo de guardas civis metropolitanos para casos de alta complexidade, definições estratégicas em cima da hora dos desfiles e falta de fiscalização no cumprimento de um contrato milionário com a prefeitura.

Lucas estava no desfile do bloco Baixo Augusta e levou uma descarga elétrica em um poste na rua da Consolação, onde, dois dias antes, haviam sido instaladas de forma irregular câmeras de segurança por empresas contratadas pela própria prefeitura.

A GWA Systems foi contratada para o serviço pela Dream Factory, vencedora da licitação para gerir patrocínio de R$ 20 milhões do Carnaval de rua. A instalação de 200 câmeras de monitoramento nas regiões de maior fluxo dos foliões era uma exigência do edital de chamamento da prefeitura.

Segundo a prefeitura, porém, as empresas não tinham autorização da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) para instalar as câmeras no poste nem da Ilume, departamento municipal que cuida dos postes de iluminação, para esticar um fio de um outro poste para ligar esses equipamentos.

O dono da GWA Systems, Arthur José Malvar de Azevedo, disse à Folha que teve apenas três dias para instalar as câmeras de segurança, depois que a Secretaria de Prefeituras Regionais e a Dream Factory definiram os locais onde deveriam ser instaladas.

Além disso, das 200 câmeras de segurança exigidas pela administração no chamamento público, Azevedo afirma que havia instalado somente cerca de 70 delas até o último fim de semana.

“A Dream Factory autorizou a instalação das câmeras nos postes durante uma reunião. Disseram que estava permitido também usar os postes da Ilume”, disse o empresário. “Daqui para frente, só com autorização [da prefeitura] por escrito, senão não tem mais [instalação] de câmeras. Faço eventos há 15 anos e nunca tive um problema desse.”

A Dream Factory também não comentou se forneceu apenas três dias para a empresa GWA Systems instalar as câmeras pela cidade nem se fiscalizou o cumprimento da exigência prevista em edital, que era prover 200 câmeras de segurança durante o Carnaval.

O dono da GWA Systems afirmou ainda que o choque que vitimou o estudante não foi provocado pelas câmeras. “O equipamento puxa cerca de 13 volts. Pode ter sido problema no poste de iluminação. Aquela macarronada de fios no poste não é minha, é da CET, eu tenho só uma caixinha com um transformador [instalada no poste]”, disse Azevedo, que contratou técnicos para fazer perícia no equipamento para esclarecer o motivo da descarga elétrica. Segundo a prefeitura, porém, não houve aval para ligar o poste de iluminação com o poste onde foram instaladas as câmeras.

Outro gargalo na organização do Carnaval de rua paulistano veio à tona com depoimento do amigo que estava com o estudante no momento do acidente. Heitor Henrique Ciciliano contou que o socorro demorou cerca de meia hora para chegar e que, até este tempo, uma médica que estava no bloco tentou reanimá-lo com massagens cardíacas. Esse mesmo amigo afirmou que a ambulância particular foi contratada pela Dream Factory (vencedora da licitação para gerir patrocínio de R$ 20 milhões do Carnaval de rua). A empresa não respondeu sobre esses pontos.

Além disso, o amigo do estudante eletrocutado diz que chegou a pedir ajuda a guardas civis metropolitanos em uma base próxima da GCM, mas ouviu dos oficiais que não poderiam ajudar porque não tinham treinamento de primeiros socorros. Disseram que não poderiam encostar no Lucas até o socorro chegar. Sobre esse ponto, a prefeitura informou que os guardas-civis têm treinamento básico de primeiros socorros, mas não estão habilitados a atender emergências médicas complexas, como era o caso. “Os guardas são orientados a solicitar o apoio das equipes especializadas, o que foi feito de imediato”, informou a administração.

Em entrevista a jornalistas nesta terça-feira (6), o prefeito de São Paulo João Doria afirmou que a prefeitura aguarda o laudo técnico da Polícia Civil para se manifestar oficialmente sobre o que chamou de lamentável acidente. Questionado sobre a responsabilidade da prefeitura no caso, Doria afirmou que a instalação dessa câmera não estava autorizada e, portanto, não representava um instrumento oficial da prefeitura. Ela foi instalada indevidamente e em condições técnicas inadequadas.

Já o promotor César Ricardo Martins, que preside quatro inquéritos sobre Carnaval de rua na capital, enviou nesta terça-feira (6) ofícios à CET, à Dream Factory e ao prefeito regional da Sé, Eduardo Odloak, para que prestem esclarecimentos sobre a morte do estudante.

Mariana Zylberkan, Folhapress

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