Redação Pragmatismo
Ciência 26/Fev/2018 às 12:18 COMENTÁRIOS
Ciência

Ricos dos EUA pagam fortuna para receber sangue de jovens

Publicado em 26 Fev, 2018 às 12h18

Homens e mulheres de meia idade nos EUA desembolsam milhares de dólares para receber o sangue de jovens e são apelidados de 'vampiros'. A prática tem provocado muita discussão e polêmica. Entenda quais são os resultados esperados e o que diz a Ciência

sangue de jovens eua mais ricos

As transfusões de sangue de jovens para pessoas mais velhas e endinheiradas tem provocado polêmica nos EUA.

A Ambrosia, uma startup de biotecnologia sediada no Vale do Silício, na Califórnia, oferece o procedimento a homens e mulheres com mais de 35 anos que estejam dispostas a pagar até 8.000 dólares (cerca de 27.000 reais).

A medida faz parte de um estudo clínico conduzido pela empresa com o objetivo de investigar os efeitos do plasma de jovens para prolongar a juventude.

Entre os efeitos esperados com o tratamento estão a recuperação do vigor juvenil e a redução do risco de doenças associadas ao envelhecimento. A promessa faz sucesso entre quarentões, cinquentões e sessentões milionários.

Em uma infusão, o voluntário recebe cerca de 1,5 litros de plasma proveniente de pessoas com idade entre 16 e 25 anos.

A estratégia foi inspirada em estudos realizados em ratos que demonstraram benefícios significativos em roedores de idade avançada que receberam transfusões de plasma de animais mais jovens. Porém, a ausência de pesquisas científicas que comprovem esses benefícios em humanos e os riscos envolvidos causam controvérsia.

Sangue de jovens

Para entender em detalhes o que está acontecendo hoje nesses laboratórios é preciso voltar ao passado. No século 19, um cientista francês chamado Paul Bert fez uma descoberta ao mesmo tempo fascinante e espantosa.

Ele fez costurou duplas de roedores para que compartilhassem o fluxo sanguíneo e pudesse observar o resultado. Os camundongos mais velhos começaram a mostrar sinais de rejuvenescimento: melhor memória, mais agilidade e uma cicatrização mais rápida.

Muitos anos depois, pesquisadores de universidades americanas como Harvard e Stanford decidiram dar prosseguimento aos estudos do francês.

A técnica, conhecida como parabiose ou união fisiologia e anatômica de dois organismos, transformou-se na base de trabalho de várias empresas na Califórnia que tentam replicar os efeitos rejuvenescedores em humanos. Mas ao mesmo tempo em que tentam revolucionar a ciência, atraem muita discussão.

Estudos

Para o médico Jesse Karmazin, o futuro é agora. Em 2016, Karmazin, que é graduado pela Universidade Stanford, fundou a Ambrosia, uma startup que investiga os efeitos do sangue de pessoas mais jovens no combate de doenças ligadas ao envelhecimento.

“Acabamos de complementar o primeiro teste clínico. Vamos fazer mais estudos, mas os resultados até agora são bons”, disse Karmazin à BBC Mundo.

“Acreditamos que o tratamento é exitoso, que reverte o envelhecimento e funciona para uma série de males associados com a velhice, como doenças do coração, diabetes e Alzheimer”, completa.

Do teste mencionado por Karmazin, participaram 150 pessoas com idade entre 35 e 80 anos, que desembolsaram milhares de dólares para o tratamento.

“Era uma transfusão simples”, explica o médico. “Recebemos o excesso de plasma de bancos de sangue, que têm muito. Nós só usamos plasma, que é o fluido sanguíneo, sem as células”, diz.

Ciência

O que para o fundador da Ambrosia parece ser algo simples desperta receio e dúvidas da comunidade científica.

“Para mim, fazer experimentos com pessoas saudáveis e dar a elas plasma com a esperança de que possam viver mais é ir pouco longe demais”, afirma Eric Verdin, presidente do Instituto Buck de Pesquisa sobre o Envelhecimento, também localizado no Vale do Silício.

Segundo ele, há muitos problemas associados ao plasma, como vírus e outras coisas que ainda não conhecemos. “Me preocupa que alguém de 40 ou 50 anos, saudável, vai receber plasma de jovens”, afirma Verdin.

“Por que acha que as pessoas tiram seu próprio sangue antes de entrar na sala de cirurgia para evitar um transfusão de sangue alheio?”, questiona.

“Eu não receberia sangue de outra pessoa, a não ser que fosse uma situação de vida ou morte”, enfatiza Verdin que, além disso, critica a cobrança de US$ 8 mil para esse tipo de teste.

Para um pesquisador como Verdin, que há décadas estuda a velhice, o surgimento dessas startups que prometem retardar o envelhecimento e aumentar a expectativa de vida para além dos 100 anos é perigoso.

Vida eterna

Mas há quem não tema os eventuais riscos e efeitos ainda desconhecidos.. Multimilionários como Peter Thiel, da PayPal, foram batizados de “vampiros” pelo interesse em transfusões de sangue de pessoas mais jovens.

Ninguém nunca conseguiu confirmar que ele realmente investe uma fortuna em plasma jovem, mas Thiel não esconde a fascinação com a imortalidade.

Para Verdin, é esse o perigo: o surgimento de visionários que buscam o elixir da juventude pode prejudicar as pesquisas biomédicas tradicionais.

“A ideia da imortalidade é tão ridícula hoje quanto era há cem, mil anos”, opina. Ainda que a busca pela vida eterna seja uma aspiração humana, avalia Verdin, não há nenhum sinal de que a ciência esteja perto de alcançá-la. “Nem mesmo o de aumentar em muito a expectativa de vida.”

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