Vereadora do PSOL que denunciou abusos de PMs é executada no Rio de Janeiro
Quinta vereadora mais votada do Rio de Janeiro é assassinada a tiros. A parlamentar denunciou, no último sábado, abusos de policiais do batalhão que mais mata na cidade. Em última postagem no Facebook, Marielle deixou mensagem de luta e resistência
Marielle Franco (Psol) foi assassinada a tiros na noite desta quarta-feira (14), na região central do Rio de Janeiro, no bairro do Estácio.
Quinta vereadora mais votada do Rio de Janeiro em 2016, com o voto de 46.502 mil eleitores, Marielle tinha 39 anos e era socióloga com mestrado em Administração Pública.
A parlamentar estava dentro de um carro e foi morta junto com o motorista que a conduzia na volta de um evento na Rua dos Inválidos, na Lapa. O Psol divulgou nota de pesar há pouco.
Segundo a imprensa local, um carro ainda não identificado parou ao lado de seu veículo na Rua Joaquim Palhares quando dois bandidos dispararam tiros e, em seguida, fugiram do local. Diversas marcas de tiro ficaram gravadas na lateral do carro.
Denúncia contra PMs
Marielle Franco fez uma denúncia, no último sábado (10), em seu perfil nas redes sociais contra policiais do 41º BPM (Batalhão da Polícia Militar) de Acari.
Há duas semanas, ela assumiu a função de relatora da Comissão da Câmara de Vereadores do Rio criada para acompanhar a atuação das tropas na intervenção federal na área de segurança do Rio.
Segundo a vereadora, o batalhão estaria “aterrorizando e violentando moradores de Acari”. Dados do ISP (Instituto de Segurança Pública) indicam que o batalhão registrou por volta de 450 mortes nos últimos cinco anos. Trata-se do maior índice de letalidade do Estado do Rio de Janeiro durante o período.
Na postagem, a vereadora escreveu: “Precisamos gritar para que todos saibam o está acontecendo em Acari nesse momento. O 41° Batalhão da Polícia Militar do Rio de Janeiro está aterrorizando e violentando moradores de Acari. Nessa semana, dois jovens foram mortos e jogados em um valão. Hoje a polícia andou pelas ruas ameaçando os moradores. Acontece desde sempre e com a intervenção ficou ainda pior. Compartilhem essa imagem nas suas linhas do tempo e na capa do perfil!“.
Marielle Franco
Marielle nasceu em 27 de julho de 1979 e foi criada na Maré, bairro da periferia do Rio. A parlamentar cursou Sociologia na Pontifícia Universidade Católica (PUC), com auxílio de uma bolsa integral, e concluiu o curso de mestrado na Universidade Federal Fluminense (UFF).
Sua dissertação de mestrado teve como tema “UPP: a redução da favela a três letras”. Como profissional, entre as atividades mais recentes, foi assessora parlamentar do deputado estadual Marcelo Freixo, um dos líderes do Psol fluminense, antes de se eleger vereadora.
Em seu site pessoal, ela faz um breve registro sobre sua trajetória. “Trabalhei em organizações da sociedade civil como a Brasil Foundation e o Centro de Ações Solidárias da Maré (Ceasm). Coordenei a Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), ao lado de Marcelo Freixo. Iniciei minha militância em direitos humanos após ingressar no pré-vestibular comunitário e perder uma amiga, vítima de bala perdida, num tiroteio entre policiais e traficantes no Complexo da Maré. Aos 19 anos, me tornei mãe de uma menina. Isso me ajudou a me constituir como lutadora pelos direitos das mulheres e debater esse tema nas favelas”, escreveu Marielle.
Última postagem
Na terça-feira (13), em uma de suas últimas postagens no Facebook, Marielle registrou a seguinte mensagem: “Nós, mulheres negras, somos a maioria da população. E ainda assim precisamos mover estruturas para garantir direitos iguais. Por isso, amanhã, quarta-feira (14), vamos reunir mulheres incríveis pra compartilhar nossas vivências, seguindo os passos das que vieram antes de nós. Somos resistência, afeto, luta e esperança! VEM! Esse evento lindo faz parte da campanha 21 dias de ativismo contra o racismo!”.
Nota do Psol
MARIELLE FRANCO PRESENTE!
O Partido Socialismo e Liberdade vem a público manifestar seu pesar diante do assassinato da vereadora Marielle Franco. Estamos ao lado dos familiares, amigos, assessores e dirigentes partidários do PSOL/RJ nesse momento de dor e indignação. A atuação de Marielle como vereadora e ativista dos direitos humanos orgulha toda a militância do PSOL e será honrada na continuidade de sua luta. Exigimos apuração imediata e rigorosa desse crime hediondo. Não nos calaremos!
Marielle, presente!
Partido Socialismo e Liberdade
14 de março de 2018